Amor,
Algumas vezes me perguntaram para quem escrevo estas cartas. Aos que me questionam, sinto dizer que não há resposta. Por isso não cartas, por isso não serão enviadas. São apenas palavras, desabafos, choros contidos. São gemidos presos por vidas, são gritos entalados na garganta. Escrevo para libertá-los. Escrevo para entender a mim mesma. Escrevo para o Universo.
Talvez um dia o destinatário se apresente em minha porta. Talvez ele me traga flores. Talvez ele use óculos. Talvez traje terno e gravata. Ou bermuda e chinelos. Talvez seja moreno, talvez tenha filhos. Ou quem sabe ele apareça no meio da mata, numa tarde de primavera. Talvez me espere na margem do rio para um passeio de barco sob o luar. Talvez me convide pra um chopp. Ou para um suco na beira da lagoa. Talvez me chame pra dançar samba, talvez me leve pra dançar forró.
Pode ser que ele não venha e eu passe a vida apenas imaginando como seria sua chegada. Pode ser que ele já tenha vindo, mas eu ainda não estivesse preparada. Pode ser que eu o veja todos os dias e ainda não saiba quem ele é. Pode ser que ele esteja do outro lado da rua e eu decida não atravessar. Vai ver ele me ligou e eu não atendi o telefone. Ou quem sabe ele me chamou pra sair, mas naquele dia eu estava indisposta. Infinitas são as possibilidades. Mais simples não ter resposta.
Seja como for, eu espero. Quando chegar a hora, saberemos (eu espero!)
Sempre sua,